Tuesday, October 4, 2011

em branco

E se eu fosse uma tela, folha ou pedra à espera de um autor? Custa-me esperar pelo sopro artístico ou por qualquer outra coisa. Tenho de prender o laisser faire, laisser passer a todo o custo, e desespero como diz o ditado, embrenho-me um mil e uma estratégias que não me deixo aplicar, diz a minha trave mestra. E eu, pendurada numa estante ou cavalete, vou tentando não deixar que o branco mude e sei que também este me contraria. Devo estar a cheirar a ontem. Devaneios. Contos de um livrinho azul, com uma dedicatória escrita em mim e para sempre fixada numa imagem. Olhar ligeiramente estrábico e o outrora negro dos cabelos quase longos. Pele estendida num sofá descansado, tapete de mim. Uns momentos apenas, revivo, sem me entramelar em novelos da ética ou de arrependimento. Tempos em que eu fui eu, mas ainda não o sabia. Deixo pousar o meu pensamento nesta almofada. E espero. E aperto os punhos sós. E abrigo-me do impossível, numa colcha de seda, toque de boémia. Por ti, autor.

Tuesday, September 20, 2011

Ainda tenho frio

"Ai de mim" é uma expressão que repudio, por orgulho ou por hábitos de combate. Por momentos o guerreiro não descansa, nem dá sinal de vida. Falta-me qualquer coisa, não sei, deve ser uma quebra de energia, espero que temporária. Chegam-me notícias desagradáveis, daquelas que não posso mudar ou reescrever e dirijo o resto das energias para outrem. Fico aqui, em cigarro enrolado, à espera do regresso do calor.

Friday, September 16, 2011

Hoje

Palavras duras sobre um antigo conforto,logo pela manhã. Lembrei-me do frio que se seguiu, ossos de uma jangada que partiu há muito e eu, a sorrir, digo que as mães não voam mas constroem ninhos. Tentei esvoaçar só para descobrir os limites da minha jaula e agora, aceno ao anjo da guarda que ainda me aquece a testa e aquilo que em tempos foi uma alma. Refugio-me em contabilidades e seguros o resto do dia; mais uma desilusão e um confronto.Enfim, vem aí a passarada, encontrar o aparentemente inabalável ninho, comme il faut. Eu sou invisível e vou voar, mais logo, papel branco em silêncio escuro.